Meu ano sabático na Nova Zelândia

Este artigo foi escrito originalmente como uma carta aberta aos alunos do ETIM Informática da Etec João Maria Stevanatto.
Como coordenador do curso sempre prezei por transmitir informações somente quando tinha absoluta certeza de algum fato. Muitas vezes, admito, eu demorava bastante tempo para comunicar algo, mas preferia isto ao invés de ter que retornar depois e contradizer o que havia afirmado antes. Raríssimas vezes repassei alguma informação ainda não confirmada, mas nestes poucos casos eu estava ciente das consequências e disposto a assumir a responsabilidade caso algum inconveniente acontecesse.
Sempre pensei dessa forma e continuarei com essa postura até que alguém me convença de que este método é equivocado. Porém, o motivo desta carta aberta deste artigo vai exatamente na contramão dessa minha filosofia. Aliás, desta e de outra filosofia, que é não expor minha vida pessoal. Mas, enfim, estou aqui para informar um fato que certamente é do interesse dos meus alunos (e agora, talvez, dos leitores do blog).
Alguém pode perguntar-se: “Mas por que então o Júnior está fazendo isso?”. É simples – queridos alunos/leitores – algumas pessoas não conseguem entender a óbvia razão Divina do porquê o ser humano tem dois ouvidos e apenas uma boca, e possuem a incrível habilidade de espalhar meias verdades sobre a vida alheia, sem importar-se com a privacidade das pessoas envolvidas ou com as consequências de uma informação incompleta. Diante disso – fofocas impertinentes envolvendo meu nome – não me resta outra alternativa senão conversar com vocês através de frias palavras de um texto digitado às pressas que, certamente, será mal interpretado por alguém e usado contra mim em algum momento.

Para dividir com vocês o que tenho para contar aqui, não vejo melhor forma de explicar certos fatos se não for através da história completa. Bem, vamos então desde o início.

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O status quo esmagando sonhos

Da mesma forma como muitos de vocês (alunos) possuem o sonho de viajar o mundo e/ou fazer um intercâmbio – vide vários exemplos no projeto Jogo da Vida. Eu, o jovem Júnior, também tinha esse sonho quando tinha a idade de vocês (me senti muito velho agora [risos]). No entanto, diante de uma realidade socioeconômica completamente diferente, acreditava que este seria um sonho impossível de realizar. Dessa maneira, me restou apenas a opção de seguir o script previsível e “imposto” pela sociedade de: Estude bastante; Passe no vestibular; Arrume um bom emprego; Compre um casa; Mantenha seu emprego; Tire férias um vez por ano; Case e Tenha Filhos; Aposente-se com segurança; e Morra em paz.
Nunca me senti confortável fazendo o que as pessoas esperavam que eu fizesse por parecer mais lógico no ponto de vistas delas. Porém, foi o modo de viver que aprendi desde criança e não me parecia na época que havia outro modo. Quando descobri que não existe apenas um caminho, eu já havia entrado nesse ciclo-vicioso-hereditário, e meus princípios não permitiria simplesmente abandonar os laços afetivos se não houvesse um motivo verdadeiramente forte. Entretanto, descobri que mesmo mantendo este status quo, eu poderia sim ter uma vida com mais significado se fizesse as coisas um pouquinho diferente do que as pessoas “normais” faziam.

Adotei uma mentalidade completamente diferente da maioria das pessoas com relação ao dinheiro e ao status social para conseguir realizar meus sonhos como, por exemplo, viajar para Nova York e publicar um livro. Além disso, meu lema profissional há vários anos tem sido “mudar o mundo”, e por essa razão me dedico tanto ao meu trabalho com professor e coordenador. Durante os seis anos que ministro aulas na Etec de Itapira convivi com pessoas incríveis, que levarei comigo para o resto da vida. No ano passado, dediquei praticamente 100% do meu tempo para meus alunos e estou extremamente satisfeito com tudo o que realizei, pois, com certeza, foi o melhor ano de todos da minha vida profissional.

Quando a vida te dá uma rasteira

Diferentemente do aspecto profissional, nos últimos dois anos a vida não foi tão generosa comigo no lado pessoal, e uma sequência de acontecimentos infelizes viraram minha vida completamente do avesso e colocaram em cheque minha sanidade mental. Uma nuvem agourenta tomou conta de meus pensamentos, minha disposição de ânimo perdeu vigor e meu entusiasmo com o futuro se perdeu.

Cheio de pensamentos quebrados
Que eu não posso consertar

Sob as manchas do tempo
Os sentimentos desaparecem

Durante todo o ano de 2017 fiz um esforço tremendo para deixar minhas angústias e tristezas do lado de fora dos muros da Etec, apenas uma vez ou outra isso não foi possível e alguns poucos alunos mais atentos perceberam que havia algo de errado.
Esta postura de manter minha vida pessoal reservada é da minha natureza mesmo, e também por que tenho como premissa de que estou a serviço do bem-estar dos alunos, e minhas tragédias pessoais não contribuem com isso de nenhuma forma. Mesmo sendo assim tão reservado, considero que possuo uma conexão emocional muito forte com meus alunos. Alguns exemplos são os momentos de quando temos entre nós os “dois de dedos de prosa”, quando peço para alguém ficar depois da aula para conversarmos reservadamente, ou quando batemos papo sobre coisas aleatórias no pátio da escola no horário de intervalo.
Enfim, o ponto onde quero chegar é que apesar de ser extremamente feliz no meu trabalho, é mais do que necessário que eu tenha agora um tempo para desapegar do que precisa ser deixado para trás e redescobrir um novo propósito, um novo sentido para minha vida. Não sei ao certo ainda como farei isso, mas, de uma coisa eu tenho certeza: EU PRECISO MUDAR! Nem sei exatamente o quê, mas reconheço minha natureza destrutiva, a tendência ao isolamento social e a teimosia de tentar compreender o incompreensível.

Mudar é essencial! E não estou preocupado com velocidade, e sim com direção. Mas, se permanecer no mesmo lugar, nas mesmas condições e continuar fazendo as mesmas coisas, nunca vou conseguir mudar (sou muito cabeça dura). Por essa razão, com o objetivo de realmente MUDAR, decidi em 2018 fazer um ANO SABÁTICO e morar por seis meses (ou mais) na NOVA ZELÂNDIA.

Afinal, o que é ano sabático?

O ano sabático é um período em que a pessoa se afasta da sua rotina e das suas funções profissionais para dedicar-se a um projeto pessoal. No meu caso, o objetivo será uma tentativa de curar as feridas ocasionadas por decepções com pessoas que eu amava, e permitir a mim mesmo um período de reflexão para arejar as ideias, recolher meus pedaços, reciclar sentimentos e enfrentar os fantasmas que assombram minha mente. Para isso, procuro neste ano sabático deixar minha zona de conforto para viver uma vida diferente, na qual possa investir em novas habilidades, ter novas experiências, conhecer meus limites e, quem sabe, descobrir um novo eu.

Por diversas vezes mencionei em minhas aulas a emocionante cena do filme Rocky VI. Nela, para quem não se lembra, o Stallone dá uma lição de vida quando diz que a vida vai te encher de porradas e bater tão forte que você ficará de joelhos para sempre se você deixar. Mas que não se trata de quão forte você bate, se trata do quanto você aguenta apanhar e seguir em frente, do quanto você é capaz de aguentar e continuar tentando. Há anos que “evangelizo” essa mensagem nas minhas aulas, e seria incoerente da minha parte não seguir este conselho, já que ele é tão propício no meu caso.

Estou tranquilo sobre esta decisão de largar tudo e ir sozinho para o outro lado mundo? É claro que NÃO! Foram longos meses de angústia tentando decidir se deveria ou não fazer isso, mas apesar do medo e de todas “as vozes” na minha cabeça dizerem que isso é uma loucura, estou convicto de que é a melhor decisão para encontrar o que estou buscando. Este período longe de tudo servirá para cobrir meu vazio interior após dois anos conturbados vivendo de perto com doenças graves, morte de familiares, prejuízos financeiros, acidente de moto, traições, decepções e um início de depressão que optei por me fechar e passar por ela sozinho.

Meu ano sabático na Nova Zelândia

Com exceção do meu trabalho, o ano de 2017 foi o pior ano da minha vida! Perdi saúde, dinheiro, amigos, lucidez, dignidade, confiança e a fé em verdades que julgava ser imutáveis. Espero que a partir de agora os ventos comecem a soprar novamente a meu favor para que este ano de 2018 possa ser o período de transição para uma nova vida que ainda não sei como será.

Tenho consciência de que o motivo do meu ano sabático não é dos mais nobres. Mas, se meus planos com a viagem derem certo, terei a oportunidade de aprimorar o meu inglês, conhecer uma nova cultura, embarcar em uma incrível jornada na Terra Média e, finalmente, destruir o “Um Anel” nas chamas da Montanha de Mordor para ficar livre de uma vez por todas desse pesado fardo em meu coração.

Este artigo foi escrito por Júnior Gonçalves e apareceu primeiro em http://www.neuronio20.com

2 comentários em “Meu ano sabático na Nova Zelândia”

  1. Que legal Junior!! Feliz que esteja tudo encaminhando…Com certeza os ventos sopraram a seu favor, é preciso arriscar para sentir, aproveita essa fase, você é jovem ainda, aproveite cada segundo!! Traga boas lembranças e muitas fotos lindas, além de momentos no coração guardados!

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