Quando a educação financeira entrou na minha vida

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Este texto sobre educação financeira foi publicado originalmente no blog Dinheirama em 07/11/2011

Durante toda a minha infância o sustento da minha família veio exclusivamente do trabalho de meu pai – que, sendo um profissional autônomo, nunca sabia ao certo quanto receberia no fim de cada mês. Em certas épocas, as comissões garantiam um mês de fartura. Em contrapartida, algumas vezes as receitas eram insuficientes até para pagar nossas contas mais básicas. Mesmo assim, nesse ambiente de renda incerta, meu pai era ótimo para gerenciar as despesas domésticas e sempre trabalhou muito para que nunca faltasse nada à nossa família.

Essa situação financeira, como já disse, durou por toda a minha infância. Como consequência, acabei levando para a adolescência esse “costume” de desejar e sonhar somente com o que estava ao alcance da renda do mês. Mesmo quando comecei a trabalhar como Jovem Aprendiz e a ganhar meu próprio salário, eu agia dessa forma. Quando muito, juntava dinheiro por dois ou três meses para comprar alguma coisa mais cara.

Aprender com os exemplos, o primeiro passo

Não tínhamos na minha família o costume de conversarmos sobre dinheiro, mas a regra máxima sempre presente e implícita nas atitudes de meu pai era de a “nunca gastar mais do que a família ganhava”.

Infelizmente, essa não é a única regra sobre dinheiro que devemos aprender.

O início da minha vida financeira foi uma maravilha, afinal, eu não era uma pessoa que me importava com grandes luxos, não tinha impulsos de consumo e meu pequeno salário (fruto do meu primeiro emprego) era suficiente para sanar meus “pequenos” desejos e sonhos de consumo. Alguns anos depois, surgiu um sonho que estava além do meu salário: cursar uma faculdade. Foi então que utilizei meu salário para pagar um cursinho pré-vestibular para tentar uma universidade pública. Eu não passei no vestibular. Mas, graças à boa nota que tirei no ENEM, eu consegui uma bolsa de 100% no ProUNI.

O sonho de cursar a graduação começava a virar realidade. Entretanto, mesmo não pagando a mensalidade da faculdade os gastos com livros, xerox e transporte para outra cidade começaram a pesar demais no meu bolso. Eu era muito jovem, sonhador, ganhava pouco e já gastava dinheiro feito “gente grande”.

Aprender com os fracassos é sempre uma opção

Contrariando os ensinamentos de meus pais, passei a gastar mais do que ganhava em um mês. E isso não aconteceu uma ou duas vezes; não, foram várias ocasiões fazendo isso. As dívidas se acumularam e viraram uma bola de neve e, quando me dei conta, meu saldo bancário estava negativo e minha vida financeira fora de controle.

Conversar com alguém sobre minha situação financeira era como um tabu. Tinha vergonha de admitir que o “rapaz inteligente” que conseguiu bolsa de 100% na faculdade era incompetente demais para administrar seu salário e seus os gastos pessoais. Por vergonha e até mesmo por um pouco de orgulho, escondi da minha família e da minha namorada os meus problemas financeiros.

A verdade é que sofri calado durante meses com a preocupação de ter que parar com a faculdade e desistir do meu sonho. Depois de “lutar” comigo mesmo e com meus fantasmas pessoais, amadureci e aprendi muito. Fui humilde para reconhecer meus erros. Não tive outra saída senão engolir meu orgulho e recorrer à minha família para conseguir saldar minhas dívidas e recomeçar minha vida financeira.

Aprender com os outros acelera tudo!

Depois desse sufoco, passei a pesquisar na Internet sobre finanças pessoais e encontrei diversos sites, blogs e artigos sobre assunto. Na mesma época, também comprei um livro chamado “Pai Rico Pai Pobre” (Ed. Campus), de Robert Kiyosaki. Com essas leituras aprendi muito sobre economia, investimentos e finanças.

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Infelizmente, a prática não funcionava muito pra mim – os autores, na maioria das vezes, escrevem para um tipo de pessoa cuja renda estava muito além da minha. Pensar em investir em ações, títulos ou imóveis com o que sobrava do meu salário era impossível, então eu só aproveitava mesmo algumas dicas sobre como organizar o orçamento mensal.

Mesmo sem muita perspectiva, continuei a estudar sobre o assunto. Foi lendo uma edição da Revista Você S/A que conheci o blog Dinheirama, dos hoje amigos Conrado Navarro e Ricardo Pereira. Depois de ler muitos artigos e ouvir muitos podcasts no blog, percebi que antes de aplicar meu dinheiro em um investimento, teria que aprender o “bê-á-bá” da educação financeira.

Aprender a investir não significa deixar de consumir

A primeira regra eu já tinha aprendido com meus pais: “nunca gastar mais do você ganha”. A segunda, tão básica como a primeira, e que eu ainda não tinha aprendido nem tampouco posto em prática era: “Ter uma reserva financeira para emergências”.

É uma coisa tão obvia e necessária, mas que infelizmente muito de nós brasileiros temos o péssimo hábito de deixar sempre para depois. A partir de então, fiz um compromisso comigo mesmo de que pouparia todo mês 10% da minha renda, fosse ela qual fosse. Quando comecei, eram apenas R$ 50,00 – que faziam uma falta gigantesca no fim do mês, mas eu estava motivado e convicto de que aquilo era a coisa certa a se fazer.

A primeira coisa que fazia ao sacar meu salário era ir para o outro banco que tinha conta poupança e depositar os 10%. No começo, era até desestimulante depositar o dinheiro e ver a quantia ínfima que ele rendia por mês. Não tem problema, afinal aprendi que como a quantia que eu dispunha para poupar era pequena, não havia outras opções de investimentos com baixo risco e boa liquidez para no caso de alguma emergência eu precisar resgatar o dinheiro sem grandes prejuízos.

Com o passar do tempo, o compromisso de poupar os 10% se tornou um hábito: eu nem sentia mais a falta dessa grana no orçamento, pois ele tornou-se uma conta como outra qualquer que todo mês precisava ser paga. Eu aprendi a viver um padrão de vida compatível com a importância de também investir.

Quando minha namorada começou a trabalhar, eu já tinha aprendido sobre a importância de conversar sobre finanças com a família e consegui convencer minha namorada a também seguir a regra de poupar 10% todo mês. O tempo passou e continuamos firmes com nossa regra dos 10%.

Mas, nem tudo são flores… Houve meses em que não foi possível depositar, principalmente quando eu e minha namorada (na época minha noiva) começamos a planejar nosso casamento. Sem problemas, o hábito e a decisão de investir já faziam parte de nossa vida: sempre recompensávamos o que deixamos de guardar depositando uma parte do nosso 13º salário no fim do ano.

Aprender ao lado de quem amamos é ainda melhor

Mais tempo passou e muita coisa aconteceu na minha vida. Conclui a faculdade, me casei, arrumei outro emprego e comecei a construir minha casa. Tudo isso sem deixar de poupar os 10% que, é claro, aumentaram de valor conforme meu salário aumentava. Descobri que é possível realizar sonhos sem deixar de sonhar.

Hoje, finalmente, eu e minha esposa conseguimos atuar na área de nossa formação e, da mesma forma que nossa renda cresceu, nosso patrimônio formado apenas com a regra dos 10% também aumentou razoavelmente. Quando olhamos o extrato bancário, os rendimentos estão longe de ser atrativos, mas com os Reais de juros somados à quantia que depositamos todo mês, ele multiplica-se de forma satisfatória (em minha opinião), se considerado o baixo risco que corremos.

Embora evitemos ao máximo fazer isso, a poupança dos 10% por várias vezes serviu ao seu propósito inicial de reserva financeira, principalmente na época entre o casamento e a construção da minha casa. Não foi premeditado, mas essa poupança para reserva financeira acabou tornando-se minha forma de investimento e, sem perceber, apliquei a terceira regra da educação financeira que os amigos aqui tanto divulgam: “Acumular para investir”.

Aprender sobre o risco abre oportunidades

Apesar de ler frequentemente sobre investimentos em livros, revistas e blogs, eu ainda não tive coragem de arriscar em alternativas como a bolsa de valores. Certamente que o maior empecilho é o medo de perder o que tanto me custou para ganhar e juntar, mas isso é um sentimento que pode ser trabalhado. E será.

Sinto que minha educação financeira já chegou a um patamar especial, em que posso arriscar um próximo passo com segurança. E isto isso porque há muito tempo venho fazendo a “lição de casa”, poupando, vivendo um padrão de vida sustentável e, ao mesmo tempo, estudando sobre os vários tipos de investimentos.

Dá mesma forma que abrir mão dos 10% do salário todo mês foi um “sofrimento”, tenho certeza que, no início, seja qual for o investimento escolhido a partir daqui, o “sofrimento” será o mesmo ou até pior por causa do risco maior. Um “mal” necessário para quem quer ver seu patrimônio crescer, o que nos leva à próxima regra que aprendi e pretendo colocar em prática: “Diversificar os investimentos”.

Uma coisa é ler uma opinião de alguém que trabalha na área de finanças, outra coisa é aprender e aplicar mudanças reais que realmente transforme nossas vidas. Eu sei do que essa transformação é capaz e decidi escrever este texto para tentar motivá-lo a também tentar. Não sou especialista, é bom que fique claro, e esta é apenas a conclusão de um leigo sobre a nossa capacidade de mudar o rumo de nossas finanças pessoais.

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