Cine Terror 6D – exaustivo dia de trabalho, ou não!

Nos dias 02 e 03 de outubro aconteceu na Etec João Maria Stevanatto de Itapira a VI Feira Tecnológica, um evento preparado pelos alunos para apresentar à comunidade alguns projetos desenvolvidos durante as aulas em cada curso.
Este que vos escreve, sendo parte do corpo docente do curso técnico em informática para internet, sugeriu no início deste semestre que os alunos desenvolvessem um cinema 6D, no qual eles utilizariam diversos recursos tecnológicos e de produção para desenvolver este projeto.
A ideia parecia ser muito boa, mas para colocá-la em prática precisaríamos de vários equipamentos para criar a estrutura física necessária ao projeto. Além disso, exigiria muita dedicação e empenho por parte dos alunos. Apesar do entusiasmo deles, tenho que confessar que tinha minhas dúvidas se realmente esse projeto sairia do papel. Não que eu não acreditasse neles, mas por causa das muitas dificuldades que eles encontrariam no caminho.
Pois bem, para resumir essa parte da história, seguem algumas considerações sobre o projeto e os resultados acadêmicos obtidos:
Imagens de divulgação do Cine Terror 6D
Imagens de divulgação do Cine Terror 6D

  1. Os alunos fizeram uma efetiva campanha de marketing no Facebook que atraiu desde o primeiro dia dezenas de pessoas, formando filas imensas que lotaram todas as sessões;
  2. Os alunos produziram uma grande estrutura para o projeto com montagem de cenário, edição de áudio/vídeo e apoio de equipamento profissional de som e iluminação;
  3. Os alunos criaram uma história fictícia de suspense que, combinados com as gravações externas próprias e montagem de figurino/maquiagem, tornaram possível uma produção totalmente original;
  4. Os alunos demonstraram talentos teatrais para encenarem e interagirem com público durante a apresentação do vídeo. Além, é claro, de uma boa dose de criatividade e flexibilidade para reinventar a apresentação a cada nova sessão.
Conclusão: um projeto de grande sucesso para VI Feira Tecnológica da Etec que recebeu inúmeros elogios por parte do público que assistiu.
Apenas isso já seria motivo de orgulho por ter contribuído um pouquinho que seja na construção desse projeto. No entanto, o que me deixou extremamente feliz, foram os momentos vividos nos bastidores e que agora deixo aqui registrado para que eu não corra o risco de esquecer o que aprendi e o presenciei neste dias enquanto ajudava os alunos neste projeto.

Equipe teatral do Cine Terror 6D
Equipe teatral do Cine Terror 6D

Personalidade e a vontade de realizar

Os alunos do projeto Cine Terror 6D possuíam perfis bem distintos, mas todos possuíam uma coisa em comum: a vontade de criar o melhor projeto possível para Feira Tecnológica. E isso significava fazer o que fosse preciso, e não o que fosse mais fácil. Dessa forma, eles tiveram que ter personalidade para defender o ponto de vista deles, e não o que outras pessoas achavam que eles deveriam fazer.
Uma característica que percebi nestes alunos foi a boa vontade de todos em buscar soluções para problema que não necessariamente eram de sua responsabilidade, e também a disposição de fazer o que fosse preciso em favor do projeto, mesmo aqueles alunos que encontravam uma barreira paralisante devido à insegurança, o que se resolveu com apenas um pequeno incentivo para restaurar a confiança. Uma particularidade de alguns alunos que até então eu não havia percebido em sala de aula.

A união faz a força

Quando trabalhamos em grupo percebemos que poucas pessoas de fato trabalham, enquanto que outras apenas fazem número. Nessa turma, pelo menos no tempo que acompanhei, isso não aconteceu. Cada aluno tinha a sua responsabilidade e fazia o que fosse possível para ajudar os colegas a desempenharem as suas tarefas. Inclusive, um fato chamou muito minha atenção nesse ponto. Antes de começar a terceira apresentação do primeiro dia da Feira Tecnológica, as alunas que faziam a encenação teatral sentiram a voz falhar devido aos constantes gritos e também por causa do intenso calor que fazia ali na sala. Vendo isso, um aluno retirou dinheiro do bolso e disse ao colega do lado: “Fulano, desce lá na cantina e compra algumas garrafas de água para as meninas e para o restante do pessoal”.

Comprometimento e presteza

O Cine Terror 6D não seria um sucesso se não fosse o empenho e comprometimento de todos os alunos envolvidos, mas algumas tarefas essenciais quase passam despercebidas. Este é o caso dos alunos responsáveis pelos efeitos de som e iluminação que, aparentemente, apenas apertaram alguns botões, mas a ordem e o momento exato de apertar esses botões fazem uma grande diferença para apresentação, e não seria a mesma coisa se eles não fizessem isso com tanto comprometimento. Além deles, há também o pessoal da montagem de cenário que incontáveis vezes tivemos que chamá-los e dizer: “Fulano, faz isso aqui, por favor,”. E quando menos esperávamos tal tarefa já estava pronta. A presteza desses alunos em construir o que fosse necessário e realizar as tarefas imediatamente foi algo muito importante para o sucesso do projeto.

O segredo da motivação para o trabalho

Após três anos trabalhando como professor, posso afirmar com absoluta convicção que, a maioria dos alunos só realizam trabalhos/tarefas mediante uma contrapartida, ou seja, se o trabalho valer nota ou algum outro tipo de bonificação. É triste isso, mas é fato.
Fiquei então a refletir as motivações desses meus alunos para realizar um projeto tão trabalhoso como o Cine Terror 6D. Seria uma nota maior no bimestre? Não. Pois boa parte desses alunos já atinge nota máxima em todas as disciplinas desde quando começaram o curso. Seria então alguma forma exibicionismo diante da escola e dos outros colegas? Definitivamente não. Muitos desses alunos ficaram o tempo todo atrás das cortinas e metade dos que foram à frente para atuar, estavam tão fantasiados que seria impossível que alguém os reconhecesse.
Tentando encontrar uma resposta para essa indagação, puxei nas minhas memórias alguma lembrança que explicasse o porquê desses alunos terem se empenhado tanto para realizar este projeto. É claro que somente eles podem responder isso, mas tenho a ligeira impressão de que a razão seja por pura e simples diversão. Pois das lembranças que tenho dos dois dias de apresentação, o que mais me marcou foi ver os alunos deliciarem-se quando a plateia se assustava. Nos bastidores, durante as apresentações, os alunos olhavam uns para os outros sorrindo e tentando não cair risada. E, quando terminava a apresentação, os alunos que encenavam chegavam com um sorriso de orelha a orelha para contar a reação da plateia quando fazia tal coisa.  E assim, por breves momentos, compartilhamos com muitas gargalhadas a satisfação de atingir com sucesso o resultado esperado.

Alunos do projeto Cine Terror 6D
Alunos do projeto Cine Terror 6D 

Lembranças piegas? Talvez…

Acredito que muitos irão dizer que estou sendo demasiadamente piegas neste meu texto. Ok, talvez eu esteja mesmo sendo exageradamente sentimental e melodramático, eu admito. No entanto, não me importo nem um pouco por saborear minhas agradáveis e divertidas lembranças de um exaustivo “dia de trabalho” #sarcasmo_detected.
No mais, estou feliz por ter colaborado com este excelente projeto do Cine Terror 6D, mas estou ainda mais feliz por ter a oportunidade de conhecer mais de perto esses alunos e suas características tão particulares, coisa que não seria possível no dia a dia em sala de aula. Daqui para frente não conseguirei mais vê-los com os meus olhos, e espero que tê-los conhecido melhor individualmente possa me ajudar a ser um professor melhor, ajudando-os individualmente no que eles mais precisarem.
Este artigo foi escrito por Júnior Gonçalves e apareceu primeiro em http://www.neuronio20.com

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