A inexorável finitude da vida

por-do-sol

Eu precisava sair, mas não sabia para onde. Caminhei a esmo durante algum tempo e quando passei em frente a um ponto de ônibus resolvi sentar para descansar um pouco. Em menos de um minuto parou um ônibus. Não havia uma alma viva ali além de mim, e mesmo assim o motorista parou e esperou por passageiros. A porta do ônibus estava aberta bem na minha frente, e num impulso que às vezes acontece na vida, resolvi entrar sem mesmo saber para onde eu estava indo.

Paguei a passagem, sentei-me, e esperei por mais algum sinal que me fizesse decidir o próximo passo. No entanto, o destino não estava querendo ajudar muito, e nada novo aconteceu. As pessoas entravam e saiam do ônibus seguindo normalmente as suas vidas, até que finalmente o ônibus parou e todos os passageiros desceram onde parecia ser o ponto final da linha.

Eu estava certamente em um bairro residencial de classe alta. Pude perceber que as casas eram luxuosas não apenas ali em frente à praia, mas também por todo o bairro até onde minha vista podia alcançar.

Algumas pessoas andavam pelas ruas com uma tranquilidade incrível, como se não houvesse mais nada para fazer naquela tarde ensolarada de quinta-feira.

Entrei em uma sorveteria. Não por que eu estava com vontade de tomar sorvete, mas por que eu realmente não sabia mais para onde ir. Ali dentro da sorveteria havia poucos clientes, e fui atendido rapidamente por uma mulher muito atraente de traços orientais que me recebeu lindo sorriso. Fiquei um pouco acanhado, o que deixou o meu inglês ainda pior do que já é.

A inexorável finitude da vida

Depois que terminei o sorvete voltei para minha jornada desconhecida e, no meio do caminho de lugar nenhum, dei meia-volta e resolvi voltar para casa andando. Com certeza levaria muito tempo, mas bastava seguir o contorno da praia por uns 15-20km e eu chegaria novamente ao meu ponto de partida.

Andei por vários quilômetros a uma velocidade de tartaruga. Certamente que naquele ritmo chegaria em casa apenas à noite; o que naquele momento não faria diferença nenhuma.

Após algumas horas caminhando cheguei em uma das praias preferidas pelos turistas. No entanto, naquele momento, ela estava quase que completamente deserta. Soprava um vento gelado e eu puxei para cima o zíper da blusa. O sol estava se pondo no horizonte e os últimos visitantes deixavam o local. Fiquei ali em pé, sozinho, durante muito tempo, enquanto o pôr do sol se transformava em crepúsculo e em seguida em noite. Só então a emoção deste magnifico lugar sagrado me tocou.

Na solidão de uma quase escuridão, consegui sentir a inexorável finitude da vida e sua preciosidade. Não damos valor, mas ela é frágil, precária, incerta, e capaz de terminar a qualquer instante, sem aviso prévio. Lembrei-me do que deveria ser óbvio, mas nem sempre é: que cada dia, cada hora e cada minuto merecem ser apreciados.

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